Wednesday, February 01, 2006

V- Ainda os amigos...

Ao longo da minha vida fui conhecendo muitas pessoas. De facto todos pareciam mesmo o modelo de amigo. Todavia a experiência que tenho mostra-me que este conceito está errado. Nem tudo é o que parece...
O João passava a vida toda metido na minha casa. Eram tantas as vezes em que ríamos até não poder mais. De um simples objecto conseguiamos transformar uma tarde triste em momentos fantásticos de chorar até doer a barriga. Ele era forte, mais para o gordito. Tinha uma enorme falta de confiança em si mesmo e sentia-se sempre abaixo de todos, mesmo estando sempre a gozar com tudo. Nos momentos mais frágeis, e apesar de eu ainda ser criança, hoje compreendo que fui muitas vezes o apoio do João. O amigo que estava sempre presente, sempre disposto a aajudar. Acho que ainda hoje me sinto assim.
Houve um episódio que ficou na minha memória por ser tão desagradável. Era uma linda tarde de S. João. O sol pairava nas árvores dando-lhe uma sombra fresca, com um cheirinho a campo. Se tivéssemos os adereços necessários teríamos feito uma sesta. Até que um dos amigos do João que eu tinha conhecido na tarde se lembrou de começar a inventar. A árvores onde nos encontrávamos situava-se do lado oposto da estrada. A ideia era abrir a tampa do esgoto e investigar a vida no mundo dos ratos, ratazanas, águas sujas. Queriam tirar à sorte para ver quem seria o primeiro a enfrentar tal fobia. Eu, sempre justo, sugeri que fosse o tal amigo que teve a ideia. Todos concordámos e ele la foi. As paredes do esgoto estavam húmidas com um cheiro difícil de suportar. Assim que espreitei pensei mesmo que algo de muito sinistro estava para acontecer mas, ao contrario de alguns, nao desisti. Entrei eu, o André (que foi o autor desta proeza) e a Sara. Eu não queria que ela entrasse mas depois de tanta insistência acabei por ceder. Quando estávamos lá em baixo lembrei-me das palavras dela: “o dia começa agora e a noite arrasta toda a alegria que o sol deixou para trás.” De repente associei num significado à frase da Sara. Tem a ver com o fruir o momento. Com o facto de a noite arrastar os bons momentos. A noite é a representação da morte. Como é que eu não pensei nisso mais cedo?

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