Sunday, October 30, 2005

I- Quem sou eu?


Toda a nossa infância fora vivida a dois. Desde muito novo nunca entendi o significado de muitos valores que fazem hoje parte da minha vida.
Ele era tímido, reservado, sempre com medo da própria sombra… pensando sempre o pior. Julgava que os monstros existiam, que as bruxas surgiriam na escuridão da noite, no limiar do mínimo sussurro. Que de uma caixa sairia sempre aquele palhaço de cara branca muito rosada, com aquele sorriso horrendo que atormenta os nossos pesadelos.
Eu era forte, divertido, sorrindo sempre mesmo quando os obstáculos surgiam. Sentia-me bem comigo mesmo… era feliz à minha maneira. Não temia nem a maior das contrariedades vendo sempre em mim um exemplo para todos.
Hoje sou ele… e ele é um retrato do meu passado. Talvez não tenha mudado por completo. Contudo, pelo que passei o meu olhar sobre a vida é outro. Sou um pouco cego num mundo em que muitos não enxergam nada. Ele é o Fábio, meu irmão. Eu sou o David.

A nossa vida nunca foi fácil. Nossa mãe não trabalhava. Nosso pai era o sustento de todos nós, porém a sua presença era quase nula. Quando saímos juntos parecia que algo sempre o incomodava. Família? Amor e compreensão? Hoje talvez ele ainda não saiba o significado destas palavras.
Minha mãe era forte… determinada. Saíra muito cedo da escola pois o amor a meu pai fora superior a tudo. Admiro-a. Admiro o seu sentimento. Não acredito que seja fácil viver em função de alguém… porém ela vive. Sempre nos deu tudo o que podia. Nossas vontades e caprichos tornavam-se realidades concretizadas. Grande mulher minha mãe. Talvez tenha herdado todas estas qualidades da avó Maria. Mas desta quero falar lá mais para a frente.

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